Ao longe, um estranho veículo sobre quatro rodas pesadas, comprido e pintado de uma cor berrante invulgar, parece ter captado a atenção dos indivíduos que aguardavam, alguns deles, impacientemente, pela sua chegada.
Estes sujeitos encontravam-se sob um cubículo aberto de vidro transparente, preenchido por papéis com números minúsculos, invisíveis para quem passa a um metro de distância, e rabiscos a corre(c)tor ou tinta preta.
O tal meio de transporte aproximou-se. Parou mesmo à minha frente e, de forma automática, abriram-se as portas instantaneamente.
Não consegui entrar primeiro. Há sempre alguém que se coloca à frente e entra pelas portas dentro com grande rapidez, para ficar com o melhor lugar do autocarro… pois, o estranho veículo automóvel de que falava era um simples autocarro amarelo, para transporte colectivo. (Por que razão os autocarros são amarelos?)
Quando entro, tendo visualizar caras conhecidas de forma discreta. Sento-me num dos bancos do fundo, por ser modesto e revelar discrição. O autocarro arrancou.
Nesse momento, fiquei alerta a tudo o que se passava lá dentro: alguém falava ao telemóvel desalmadamente. Uma rapariga bocejava, outra expelia, lentamente, todo o ar que tinha nos pulmões pela boca fora, com toda a força suprimida. Houve quem olhasse de soslaio para a rapariga.
Um jovem, quase adulto, batia com o pé no chão de forma ritmada ao som que lhe era emitido pelos auriculares enfiados nos seus ouvidos.
Uma velhota mexia nos sacos das compras, conferindo tudo o que estava lá dentro e fazendo contas ao dinheiro que gastara.
Duas mulheres, já na casa dos quarenta, murmuravam entre si, contando algo uma à outra e, por vezes, soltavam uns risinhos agudos.
Enquanto um homem tossicava, olhei para fora da janela. Na rua, algumas adolescentes fingiam que não estavam interessadas em saber quem estaria dentro do autocarro. Ajeitavam o cabelo, como se gritassem :“Olhem para mim!”, enquanto davam uma espreitadela para dentro do autocarro para verem se estava alguém a olhar. Um ar satisfeito cobre-lhes o rosto.
Suspiro. Viro os olhos para dentro do veículo em que me encontrava, observando quem chegava e quem saía. Mas, quando chegou à minha vez de tocar à campainha para sair, pensei para onde iriam aquelas pessoas e o que elas sentiriam por estarem a chegar ao seu destino. E, depois, reparei que cada rosto que se encontrava lá dentro mostrava tudo o que sentiam, desde ao modo como se comportavam até ao que transmitiam aos outros.
Cheguei à minha paragem de saída. E quando saí do autocarro, olhando-o mais uma vez, pus-me novamente a questionar, por mais estúpido que seja, por que razão é que os autocarros são amarelos?
Cláudia Vieira Silva, nº7
10º ano Turma 3
2010/2011 Português
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